Nesta noite, muitos fãs da saga Harry Potter se reúnem para comemorar 20 anos do lançamento de Harry Potter e A Pedra Filosofal. Muitos desses fãs, não eram nem nascidos na época. Apesar de nascida, e bem crescidinha, não o conheci naquele momento. Conheci-o depois, bem depois. Para ser exata, 6 anos depois.
Em 26 de junho de 1997, eu estava com 16 anos e ingressava no Colégio Estadual Júlia Kubitschek para Formação de Professores. Sempre havia sido minha vocação: trabalhar com Educação. Nunca duvidei disso. Embora estes profissionais não sejam valorizados, sempre soube que esta seria minha vida. Meu pai não gostou, mas não pôde fazer nada: a decisão era minha. E apesar de todas as dificuldades, não me arrependo dessa escolha.
Passei os anos no ensino médio sem nem ouvir falar em Harry Potter. Terminei e passei um ano trabalhando como explicadora, todo o ano 2000, sem saber. Nesse ano, estive na frente do Meridien em Copacabana durante um dia inteiro para ver os Backstreet Boys pela primeira vez (de lá para cá, todas as vezes que vieram ao Brasil eu os vi e fui a um show). Em 2001, ano que fariam o primeiro show no Brasil, passei um dia inteiro (1 de maio) acampada em frente ao Maracanã, cantando, conversando, divertindo-me com outros fãs. Mas ainda não havia ouvido falar em Harry Potter.
Neste mesmo ano, do ataque às torres gêmeas nos Estados Unidos, tive um problema de saúde e quase morri. Lembro-me (e ainda tenho) as cartinhas que minhas amigas mandaram para o hospital, dando-me forças. Lembro-me do olhar triste do meu pai quando me viu na UTI, achando que morreria... não conheceria o Harry. E esse foi o ano do lançamento de A Pedra Filosofal nos cinemas, em 23 de novembro. Mas ainda não foi dessa vez.
No ano seguinte, 2002, eu trabalhava numa loja chamada Fama. Também em novembro, dia 22, foi lançado o filme A Câmara Secreta. Mesmo trabalhando, eu não tinha condições financeiras de pagar um cursinho para entrar na faculdade ou tentar um concurso público, pois tinha de ajudar em casa a compor o orçamento da minha família. O plano era fazer um concurso público e, uma vez empregada com estabilidade, estudar e tentar entrar na faculdade. Foi quando ousei sonhar um pouco mais alto para uma menina criada em comunidade.
Foi em 2003 que o primeiro encontro aconteceu, quando eu estava com 22 anos. Um amigo do meu irmão havia alugado os dois primeiros filmes (fitas de VHS) e convidou a mim, meu irmão e uma amiga para assisti-los em sua casa. À primeira vista, aquele garoto de cabelos pretos e uma cicatriz em forma de raio na testa não me chamou atenção. Nenhum entusiasmo. Até gostei do segundo filme, mas não achei grande coisa. Ainda não havia recebido minha carta...
Mas, pouco tempo depois, peguei emprestado com outra amiga os mesmos filmes (não eram dela, eram dos sobrinhos) e os assisti novamente em minha casa. E aí, a mágica aconteceu! Fiquei encantada com o segundo filme que assisti incontáveis vezes. “Caramba! Preciso ler o livro!” - pensei. E foi o que fiz. Meu primo tinha todos os livros (até o Cálice de Fogo) e emprestou-me aos poucos, conforme ia lendo. Uma galera folheou as mesmas páginas; os livros passaram de mão em mão. Eu já tinha o hábito de ler, mas essa foi a primeira vez que fiquei viciada numa história.
Quando a Ordem da Fênix foi lançado e minha tia já tinha comprado o livro para meu primo, ficávamos apressando-nos uns aos outros para ler logo, pois estávamos todos loucos para saber o que acontecia a seguir, depois do retorno de Lord Voldemort. Chorei quando li a profecia. “Que droga! Harry Potter vai morrer!” Podem rir; não consegui conter as lágrimas. Ele já havia sofrido tanto!
Harry Potter esteve comigo quando cursei a faculdade de Letras. No ensino médio eu era uma aluna razoável em Literatura. E foi minha escolha na faculdade. Para mim foi um desafio. Ao contrário do que algumas pessoas pensam sobre mim, não tenho medo de desafios. O que eu não suporto mesmo é a descrença, a dúvida. Durante os anos na faculdade, mesmo com todos os textos e leituras obrigatórias, nunca deixei Harry Potter. O que antes era uma dúvida, passou de desafio a prazer. Fui seduzida pela Literatura.
Lembro-me de sair da Faculdade de Letras, no dia 15 de julho de 2007 para assistir ao quinto filme da saga. Fui sozinha. Saí direto da faculdade, peguei um ônibus direto para o cinema, no centro da cidade. Estava tão feliz por ter conseguido um excelente resultado em Port VII, de uma professora com fama de ser “violenta” - brincadeira dos alunos... Violeta era seu, nome. Liguei para minha mãe do celular; eu estava eufórica. Assisti ao filme sozinha e depois com meus amigos.
Harry Potter esteve comigo desde então. Nas vitórias e nas derrotas. Sempre uma frase de um personagem acalmava meu pensamento. Sempre um diálogo resolvia algumas de minhas questões. Depois que conheci o mundo mágico, nunca mais eu vivi longe dele. E aquele rapaz que me apresentou a essa história; não sei bem se ele nutriu pelo personagem o mesmo amor que eu. Sei que ele fez grandes escolhas e as viveu intensamente. Ele se casou, teve um filho, cursou pedagogia, trabalhou. E, como um cometa que passa e deixa um rastro, ele se foi aos 33 anos. Era o melhor amigo do meu irmão. Filho único. Deixou também um único filho, a esposa e um sogro que traduzia com seu choro o homem que o genro havia sido. Ele sempre será lembrado pela família dele. E eu sempre lembrarei que foi ele quem me apresentou Harry Potter.
Essa é minha história com Harry Potter e ainda não acabou. Vou continuar lendo os livros, assistindo aos filmes, falando dos personagens, citando os diálogos e sim, vou continuar postando na Internet o que eu quiser e puder sobre o bruxinho que com sua história alegrou a minha. Muita coisa está por vir. Há muito a ser realizado, muito a ser vivido. Espero enfrentar corajosamente como ele enfrentou todos os seres, criaturas, monstros e dificuldades. Pois, afinal, “Não vale a pena viver sonhando, Harry, e se esquecer de viver.”
Texto inicialmente publicado como nota em minha página do Facebook em 26 de junho de 2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário