Num dia cinza de outono, uma raposa passeava por bosques nunca antes visitados, em busca de algum animalzinho desavisado que caísse em suas garras. Com a aproximação do inverno e a ausência de comida, a raposa precisava encontrar um abrigo o mais rapidamente possível. Errante, a raposa encontrou uma caverna que já era habitada por uma ursa. Esta aguardava a chegada de seus filhotinhos e estava cansada, porém animada. A raposa se aproximou da entrada da caverna e gritou:
- Oláaaaaa! Tem alguém aí??
- Sim, quem deseja? - respondeu a ursa.
- Sou uma desafortunada raposa que precisa de um lugar para ficar e alguma comida para saciar sua fome.
A ursa, um tanto desconfiada, então perguntou:
- Como conseguiu encontrar este lugar?
- Na verdade, cheguei aqui por acaso. Vinha pelos bosques procurando água e comida e acabei vendo esta caverna. Pensei em ficar por um tempo para descansar. Você pode me ajudar?
Cheia de incertezas, a ursa resolveu ajudar. Que mal uma raposa solitária poderia lhe fazer?
- Sim, você pode ficar. Darei um pouco dos meus alimentos e você pode descansar. Sabe de uma coisa! Você também pode me ajudar! Durante o inverno eu durmo bastante, logo vou hibernar. Meus bebês estão para nascer e você pode nos vigiar. Assim nenhum predador poderá nos atacar.
A raposa satisfeita aceitou a proposta. Comeu, bebeu, conversou, riu e dormiu. Acordou e repetiu tudo de novo. Aquela ursa sabia bem como tratar um hóspede! Mas a ursa dormiu. A comida acabou. A conversa cessou. Os filhotes nasceram e toda a atenção da ursa era para eles. Durante uma das longas sonecas da ursa, a raposa, não aguentando mais, pegou um dos filhotes da ursa e o comeu. Ao acordar, enquanto a ursa preocupada procurava seu filhote, a raposa fingia dormir, ressonando muito alto.
- Acorde! Acorde, por favor!! Um dos bebês sumiu!
- Como isso é possível?? - disse a raposa.
- Não sei! Acordei e ele não estava lá! Não sei o que fazer!
- Tenho uma ideia. Talvez ele tenha saído da caverna. Por que você não sai para procurar? Eu fico aqui e o outro bebê posso vigiar.
- Sim, claro. Obrigada! - disse a ursa e saiu aflita.
A raposa pegou um pequeno galho e fez marcas no chão simulando pequenos passos em direção à entrada da caverna. Em seguida, pegou o outro filhote e o devorou. Muito esperta, escondeu-se atrás de uma rocha e adormeceu. Quando retornou, a ursa toda chorosa percebeu a ausência de seu outro bebê e deu um urro tão alto que acordou a raposa.
- O que foi, dona ursa? Não conseguiu encontrar o seu bebê?
- Não! E o outro também sumiu! Não sei mais o que fazer!
- Não se preocupe tanto... se eles saíram devem retornar.
E enquanto saía detrás da rocha, a ursa percebeu um pedaço da roupinha de seu bebê preso nos pelos da raposa. A ursa se aproximou ameaçadora e disse a raposa:
- Sinto o cheiro de meus bebês. Eles estão aqui. Ah! Encontrei! - e pegou o pedaço do tecido.
A assustada raposa começou a se afastar.
- Eu não fiz nada! Eu não fiz nada!
- Eu tentei lhe ajudar e é assim que você me paga?!?
- Desculpe-me, por favor! Deixe-me explicar!
- Sim, claro, deixarei. Mas antes preciso de forças. Devo me alimentar.
Então a ursa prendeu a raposa com suas fortes garras e estraçalhou-a num piscar de olhos.
O abuso da raposa só gerou sofrimento. Os bebês foram devorados, também a raposa, assim como a confiança da ursa que seguiu seu caminho comendo qualquer raposa que encontrava.
Texto inicialmente publicado como nota em minha página do Facebook em 29 de novembro de 2017.
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