Há algum tempo atrás, (bem pouco, na verdade) pais, mães, responsáveis, professores e demais profissionais da educação foram surpreendidos por um tal jogo chamado Baleia Azul, que levava seus participantes, basicamente crianças e adolescentes, ao suicídio. A baleia sobre a qual falarei aqui não é jogo, mas uma gigantesca lacuna.
A adolescência é uma fase intermediária, de transição, que compreende o período entre a infância e a idade adulta. É uma fase marcada por constantes e inúmeras mudanças (mental, emocional e social). Cada povo entende a adolescência de acordo com suas próprias características, história e costumes.
Dessa maneira, o adolescente não deixa de ser uma “metamorfose ambulante”; é um ser que sofre transformações significativas que impactarão sua vida futura como adulto. É preciso, pois, se preocupar, fazer algo a respeito, ouvir e falar.
Os adolescentes têm dificuldade em seguir regras, obedecer ordens, respeitar limites e reconhecer autoridade. Acham que o mundo gira em torno do umbigo deles. Não sabem lidar com perdas e são extremamente suscetíveis às modinhas.
Como se não bastasse o universo de sentimentos, emoções, sensações e descobertas que povoam a existência de um adolescente, muitas vezes este precisa lidar com uma educação deficiente por parte dos pais e com influências externas na formação de suas crenças e opiniões. É aqui que mora o perigo.
A ausência dos pais na vida de seus filhos adolescentes, resultado de uma vida corrida de muitos afazeres, na qual não se tem tempo para conversar e orientar, revela-se apenas como um dos problemas. Ainda outro é quando os pais, por falta de vontade, delegam a educação de seus filhos a terceiros; passam a responsabilidade para um cuidador, parente, escola, TV ou Internet. É muito perigoso não conhecer o próprio filho: seus gostos, desejos, pensamentos, opiniões. É nessa lacuna que pessoas mal intencionadas se apresentam por meios escusos como a luz no fim do túnel, aqueles que podem ditar comportamentos pelo simples fato de os OUVIR.
A vulnerabilidade do adolescente reside no fato de que ele acredita não ser ouvido ou visto por ninguém. O adolescente brilha quando dirigimos para ele o nosso olhar. Não falo do olhar de recriminação, daquele olhar das broncas ou dos sermões. Falo do olhar curioso, do olhar de quem está disposto a conhecê-lo, a descobrir o universo do adolescente. Não é o olhar da imposição, mas o olhar de quem se apresenta como um caminhante ao lado dele naquele trecho da jornada.
Apesar de se sentirem independentes, autossuficientes e super ultra mega inteligentes, os adolescentes se acham invisíveis e precisam da orientação dos pais. Quando eles não têm essa porta do diálogo aberta, buscam as informações das quais precisam em outro lugar. E esse outro lugar pode ser uma baleia. Azul, roxa, preta, vermelha... Não importa a cor. É uma baleia!
O apelo do grupo, a necessidade de se encaixar em qualquer “bonde”, a imaturidade podem custar muito caro. E então, o que menos importa é a cor da baleia. E as baleias sempre existirão. Vez ou outra poderão aparecer de outra forma, com outra cor ou nova roupagem... para enganar mais centenas, talvez, milhares de jovens. Mas o certo é que sempre haverá a necessidade de criar, educar, conhecer e se preocupar com o próprio filho. Quem sabe se pela via da amizade (por que não?) entre pais e filhos ficaremos a salvo do fantasma da baleia azul...?
Texto inicialmente publicado como nota em minha página do Facebook em 22 de maio de 2017.
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