Ode ao Bidu

Inúmeras vezes já ouvi que "o cão é o melhor amigo do homem". Há bem pouco tempo tenho acrescentado "e também da mulher!". Mas, esta história começou há aproximadamente 13 anos atrás. Esta é a história do meu cachorro Bidu.

Era uma vez... não, brincadeira... não foi um conto de fadas...

Em 1998, quando meu pai ficou desempregado e "inventou" que seria comerciante, abriu um negócio que durou apenas dois anos. O velho investiu o que recebeu da rescisão em um barzinho simples perto de onde moramos. E, lá, apareceu um cachorro abandonado, com os pelos da cor de fogo, parecido com um pequeno leão que fazia companhia para meu pai e seus clientes. Um deles, chamado por todos de Bill, era o mais assíduo do lugar: um beberrão que sempre caía em coma alcoólico. Não sei bem o porquê, só sei que começaram a chamar o cachorro de Bill. Como as pessoas têm mania de apelidos, logo passaram a chamar o bicho de Billzinho.

Enquanto o bar funcionou, Billzinho era uma extensão dele, quase como um funcionário que ficava ali para ouvir as mágoas, reclamações e brincar com os mais eufóricos bêbados que apareciam. Só que, como disse, em dois anos, tudo acabou. O bar fechou. Meu pai não apareceu mais. Billzinho ficou só, em frente ao bar. Esperando... Quando cansou de esperar, começou a procurar. E nos encontrou! Bateu na porta de nossa casa, entrou e ficou. Não fomos nós que o escolhemos, foi ele quem nos escolheu.

Meu pai conta que, antes de perder o emprego, quando ia ao trabalho certa vez, um cachorro semelhante a um filhote de leão o seguiu até o ponto de ônibus. Ele gostou do bichinho, achou-o bonito, mas não pôde pegá-lo porque estava indo para o trabalho. Até hoje ele acha que aquele filhote é o cachorro que vive conosco.

Billzinho enfrentou várias dificuldades. A primeira delas: não ser aceito. Confesso que, na época e durante muito tempo, não gostava de cães. Não suportava que encostassem o focinho gélido e úmido em mim. Achava desagradável quando esbarrava em mim e sentia o pelo na minha pele. E os latidos? Terríveis! Não gostava da presença de cães nem de que se aproximassem de mim. Não gostava quando o Billzinho me olhava. Ele tem olhos esbugalhados. Sentia-me mal.

Mas, então, começaram as lições. O olhar dele pedia aceitação. Eu era a única pessoa que não gostava dele em casa. Minha família cuidava bem dele. Não precisavam de mim. No entanto, o olhar insistente continuava. Até que pensei: "Já que não tem jeito, tenho que aprender a conviver com ele". Comecei por aceitar a sua presença. Creio que, para ele, não foi suficiente. Billzinho começou a se aproximar de mim, pedindo por um olhar, um carinho, ou mesmo um pedaço de carne! Quando isso acontecia, eu gritava: "Sai daqui!" E ele, assustado, corria para bem longe. Se eu queria dar um pedaço de carne, jogava de uma distância enorme, só para não tê-lo por perto.

Até aqui, com as atitudes dele eu já havia aprendido ESPERANÇA e PACIÊNCIA.

Às vezes, ele subia na cama e fazia uma bagunça fenomenal! Divertia-me ao vê-lo bagunçar tudo para depois minha mãe brigar com ele e ter de arrumar as coisas que ele espalhou. Acho que eu gostava de vê-lo encrencado! Pois é... mas, foi assim que, aos pouquinhos, permiti que ele se aproximasse de mim. Comecei por colocar a mão na cabeça dele e dar dois leves tapinhas. O bicho me olhava como se dissesse "Obrigado!" Depois de um tempo, passei a acariciar as orelhas. O cachorro suspirava... feliz! Mas ele ainda não estava satisfeito. Quando cheguei a esse momento, comecei a questionar: "Por que o cachorro tem o nome de um bêbado?" Assim, decidi que não mais se chamaria Bill, mas Bidu. Só que eu era a única pessoa a chamá-lo de Bidu. No início foi engraçado e estranho. Porém o Bidu aceitou. "Ah! O que é um nome perto do carinho que posso receber?" Parecia esse o pensamento do cachorro. Dei a ele uma nova identidade: a de um cachorro amado por todos.

Neste ponto, aprendi o significado de PERSISTÊNCIA.

A vida era só alegria! Brincávamos, ele balançava aquele rabo de espanador pra mim e por mim! Meu pai tinha o costume de ir ao ponto de ônibus para me buscar depois do trabalho. Ele não ia sozinho: Bidu o acompanhava. De longe, via o rabinho balançado, alegre ao me ver. E voltávamos pra casa os três, Bidu com a boca aberta e língua de fora, cansado da caminhada, como que com um sorriso por estarmos todos juntos em casa. Mesmo assim, eu apenas gostava do Bidu. Ainda tinha reservas ao lidar com cachorros.

Durante os anos, tivemos alguns gatos também. Os nomes eram bem parecidos (talvez para não esquecermos... hehe): Mico, Misso e Mimi. Bidu não conviveu com Mico - esse morreu envenenado. Então veio o Misso, e eles conviveram pouco. Os dois tinham liberdade para sair; o Bidu chegava a passar até três noites fora de casa. Preocupava a todos. Mas voltava ferido, cansado, sujo e tínhamos que começar tudo de novo com ele, e ele com o gato. Misso adoeceu e morreu. Bidu sentiu falta, mas rapidamente esqueceu. E então veio o Mimi. Tudo o que o Bidu fez para me conquistar, na mesma proporção, o Mimi fez para conquistar o Bidu. E como o cão, o gato também conseguiu. Bidu e Mimi era grandes amigos. Quando o Mimi conseguia fugir de casa, ainda filhote, quase sumindo na esquina da rua, era o Bidu quem o trazia pendurado pelo cangote. Ficavam com minha mãe, na porta de casa, debaixo do sol, brincando de pular, correr e morder. Um espetáculo para as crianças que passavam da escola! Elas paravam para ver os dois brincarem. Riam muito e não entendiam como um cachorro podia ser amigo de um gato quando todos os filmes e desenhos diziam (e às vezes ainda dizem) o contrário.

Aqui eu aprendi que, "não basta aprender, é preciso PRATICAR o que se aprende"

Quando o Mimi morreu no dia do jogo entre Brasil e Inglaterra da Copa de 2002, o Bidu sofreu muito. Ficava deitado direto, não queria comer, enfim, todos sofremos. Depois do Mimi, ficamos um bom tempo apenas com o Bidu, sem outro animal de estimação. Entretanto, quatro anos atrás, chegou outra fofurinha em nossas vidas: Dobby! Não o elfo doméstico do Harry Potter (de onde tiramos a inspiração para o nome), mas um filhote de cachorro fofíssimo, como são todos os filhotes. Fiquei apaixonada por esse bebê cachorro! Não apenas eu, todos na casa. Bidu sentiu ciúme, zangou-se com Dobby! Mas como o Mimi, o Dobby também amansou a fera. Dobby mostrou o mesmo empenho que o Bidu e o Mimi na arte da conquista.

Com a chegada do Dobby, aprendi várias coisas sobre o cuidado de cães e passei a empenhar-me mais no bem-estar deles. Hoje, entendo quando outras pessoas dizem que seu bichinho faz parte da família, é um membro da família. Hoje, declaro abertamente o meu amor ao Bidu e ao Dobby. Passamos por muitas coisas juntos: alegrias, sustos, tristezas, doenças etc... e oro para termos novas histórias pra contar. Bidu já teve câncer e ficou curado. Recentemente foi operado, e acha que está bonzinho... que pode descer as escadas sem problemas...

É incrível o que podemos aprender com os cães. Sei não, mas, me parece que há mais FIDELIDADE na irracionalidade do que na razão humana, objeto de vanglória de muitos tolos. É por isso que amo meus cachorros  e cuido pra que fiquem bem. São minha responsabilidade. São parte da minha família. Parte da minha vida!

Um comentário:

  1. Caraca lembra qdo agente era criança q eu dizia q o Bidu tinha o olhinho esbugalhado q nem a hiena do Rei Leão? Bidu é ultra querido na nossa família rsrsrsrs, Caraca e o Dobby q pulava em mim e eu detestava rsrsrsrsrs ai ai relembrando bons tempos de saladinha de D. Maria aos domingos. Amo vc irmãzinha do coração!

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