Começo afirmando que a leitura de O Mal do Século de Junior Berts, disponível para aquisição na Amazon, foi uma experiência literária maravilhosa. Costumo ler os clássicos da literatura, pois sempre acho que estou em dívida, que não li tudo o que devia. Às vezes, entretanto, intercalo obras mais recentes para me atualizar. Não conhecia a obra nem o autor, mas quando o próprio entrou em contato comigo sugerindo a leitura, não pude recusar. Encontrar esta história foi uma grata surpresa.
A
narrativa em primeira pessoa conta a jornada de Vincent Blessington (nome
sugestivo rsrs), um jovem lorde inglês que vive uma vida despreocupada regada a
bebedeiras e outros prazeres mundanos enquanto escreve suas peças teatrais. Ele
escreve sua história em um livro que é lido pela personagem Sarah,
interlocutora do protagonista ao longo do enredo. Enquanto ela lê, tomamos
consciência dos acontecimentos na vida de Vincent.
Os
fatos narrados em 1911 referem-se a eventos iniciados em 1832 na Inglaterra e,
posteriormente, em outros lugares como Veneza. Não vou contar a história de
Vincent. Para conhecê-la, você terá que ler. Recomendo que o faça. Você não vai
se arrepender!
Continuando...
Inserida na fase do ultrarromantismo, a narrativa traz elementos
característicos desse período: o exagero sentimental, pessimismo e tédio, fuga
da realidade, obsessão pela morte, idealização do amor, subjetivismo e
egocentrismo, gosto pelo mórbido e macabro, ironia e sarcasmo, saudosismo e
idealização do passado.
Assim como ocorre em Memórias Póstumas de Brás Cubas, o leitor
é convidado a interagir com o autor-personagem Vincent e com o autor Junior
Berts. O trabalho impecável de ambientação e caracterização e a presença de um
humor ácido fazem com que nos sintamos parte integrante da obra desde o início
como observador e interlocutor.
Reverenciando
grandes escritores e poetas, o livro faz referência a diversas obras e autores:
O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde, O Corvo de Edgar Allan Poe e Noite na
Taverna, de Álvares de Azevedo. Cita ainda Alice no País das Maravilhas de
Charles Lutwidge Dodgson sob o pseudônimo de Lewis Carroll, Victor Hugo,
Charles Dickens e Lord Byron, descrito na obra como um amigo próximo de
Vincent.
O
protagonista é bem construído. Se há alguma dificuldade em se identificar com
Vincent, não é difícil compreendê-lo nem sua motivação. Os demais personagens
cumprem perfeitamente seu papel na trama, com destaque para Clementina, Erinye,
Arctur, Aveline, Briana e Deyvi Thomas.
Embora
um pouco lenta nos primeiros capítulos, a história acelera o ritmo a partir da
viagem de Vincent, prendendo a atenção do leitor, deixando-nos ansiosos para
conferir o que acontece depois. Com muitos momentos emocionantes, tensos,
outros ainda aterrorizantes como o capítulo 9 sobre o manicômio - que me fez
perder o fôlego - a descrição das cenas, os diálogos rápidos e o encadeamento
de ações contribuem para aumentar a expectativa e a avidez. Há momentos bem
divertidos em que gargalhei bastante e algumas cenas memoráveis, inesquecíveis
mesmo. Somando-se a todos esses aspectos, as revelações e as reviravoltas mantêm-nos
aprisionados no mundo e na mente do personagem que busca o seu lugar ao sol num
mundo sombrio de maldições, indiferença e vícios.
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