Olá, amigo!!
Terminei ontem a leitura do livro O Ano da Morte de Ricardo Reis de José Saramago. Falar que é uma grande obra de um grande autor é muito pouco. Excepcional! Para que não está acostumado, o livro causa um estranhamento pela sua forma peculiar - economia no uso da pontuação. De maneira genial, Saramago conduz-nos em seu ritmo, fazendo-nos avançar e voltar para compreender e para saborear cada página de seu romance. Para os amantes de boa literatura é um banquete! Dar um destino a Ricardo Reis, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, não só é interessante como brilhante, na medida em que Criador e criatura se encontram nesta jornada de múltiplos que são diferentes mas iguais. No enredo, o retorno de Ricardo Reis a Portugal depois de viver por anos no Rio de Janeiro, seu envolvimento com Lídia, nome de uma de suas musas nos poemas - não a mesma - seu interesse por Marcenda e seu membro inanimado... os passeios de Reis por Lisboa, seus devaneios, suas conversas com Pessoa que é morto mas de alguma forma ainda vive, tudo é incrivelmente encantador. Não é um livro para ler com pressa. É um livro para ler, refletir, contemplar o belo.
A divisão de classes na sociedade, a situação política de Portugal, Espanha e de toda a Europa, fios cuidadosamente trançados a trama. Saramago nos leva à discussões metafísicas e existencialistas sobre o ser e o não-ser, sobre o estar e o não-estar. Temas como solidão e morte ganham um sentido para além da tristeza e da decepção. É um mar de outros que habitam um único ser. Ambas, então, não existem! Enquanto houver quem se lembre... a importância da memória, individual e coletiva.
Em alguns momentos, visualizei tão claramente as cenas que cheguei a pensar em uma adaptação desta obra para o teatro, cinema ou mesmo para TV. Descobri que em julho do ano passado houve uma adaptação teatral pela Barraca. Percebi como sou ignorante em se tratando da história de Portugal. E não só isso, dos povos que originariamente colonizaram nosso Brasil; africanos, imigrantes e indígenas. Todos eles contribuíram para nossa cultura.
Não vou aqui contar o que li. Meu objetivo é compartilhar minhas impressões, meu deleite.
Muitos trechos chamaram minha atenção. Um deles foi uma fala da personagem Lídia:
"O senhor doutor é uma pessoa instruída, eu sou quase uma analfabeta, mas uma coisa eu aprendi, é que as verdades são muitas e estão umas contra as outras, enquanto não lutarem não se saberá onde está a mentira."
As verdades como Pessoa ou Reis ou Caeiro ou Campos ou eu ou você são muitas. Somos todos analfabetos. Todos lutamos todos os dias como se luta nas guerras para não sermos uma mentira, para afirmar a verdade que dizemos, fazemos, somos.
Podia ter escolhido muitos outros trechos para citar. No entanto fico com este que traz complexidade na simplicidade, na medida certa.
Comece a ler um livro!
Até a próxima semana!
Texto inicialmente publicado como nota em minha página do Facebook em 16 de outubro de 2017.
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