Reformando-se




Olá! Como vai você? 

Espero que esteja bem. E se não estiver??? O texto de hoje trata disso: reformar-se.

Nosso corpo e nossa mente precisam passar por reformas com alguma periodicidade. Eles são como uma casa. Com o passar do tempo o reboco cai, a parte elétrica apresenta problemas, canos estouram, rachaduras aparecem... A casa sofre com vendavais, grandes períodos de estiagem, vento... Nosso corpo também é assim. Precisamos cuidar do corpo indo ao médico ao menos uma vez ao ano, fazendo dieta, mantendo uma boa alimentação, fazendo exercícios físicos. Todos esses cuidados visam identificar problemas e solucioná-los ou simplesmente manter nosso corpo funcionando bem. 

Ameaças externas também afetam nosso corpo. Má alimentação, sedentarismo, estresse, automedicação, doenças não tratadas... Tudo isso baixa nossa imunidade. Mas quero falar brevemente sobre um outro tipo de reforma... a reforma da mente.

Muitas vezes agimos como donos da verdade. O outro sempre está errado. Nós pensamos que temos razão. É difícil ouvir o outro. Mais difícil ainda considerar o que o outro diz, quando pelo menos escutamos o que ele/ela está a dizer. Achamos que somos o centro do universo, perfeitos, mas não somos. Felizmente, além de imperfeitos, somos mutáveis. Temos a capacidade de analisar, avaliar, rever opiniões e conceitos. Temos a possibilidade da mudança. 

Assim como uma pessoa obesa pode passar por uma mudança alcançando o seu objetivo do peso ideal, com esforço, dedicação, acompanhamento e reeducação, nossa mente pode também mudar após o exercício de ouvir o outro, de compreender o outro, de analisar-se, de entender o próprio tempo. Quero dizer que os erros não são acidentes do percurso como muitos pensam. Os erros são oportunidades de crescimento, desenvolvimento, evolução, iluminação. Chame do que quiser. Reconhecer é parte importante do processo que já se iniciou dentro de nós. A outra parte, igualmente importante, é o desculpar-se, desculpar o outro e/ou aceitar o pedido de desculpas do outro. Esse movimento mostra a todos não somente a grandeza do coração, mas a vontade de construir pontes, manter elos. Todos crescem. Não é à toa que um texto surge melhor depois de uma revisão. 

Também precisamos nos avaliar, fazer uma revisão de nós mesmos, reescrever-nos de maneira diferente e melhor do que antes. E devemos fazer isso em qualquer área de nossas vidas. Enquanto há vida deve haver esperança.  Olhar para nós mesmos, fazer manutenção, promover reformas internas pode fazer com que vivamos mais com maior qualidade de vida. 

Até a próxima semana!

Texto inicialmente publicado como nota em minha página do Facebook em 24 de outubro de 2017.

Saramago, Pessoa, Reis



Olá, amigo!!

Terminei ontem a leitura do livro O Ano da Morte de Ricardo Reis de José Saramago. Falar que é uma grande obra de um grande autor é muito pouco. Excepcional! Para que não está acostumado, o livro causa um estranhamento pela sua forma peculiar - economia no uso da pontuação. De maneira genial, Saramago conduz-nos em seu ritmo, fazendo-nos avançar e voltar para compreender e para saborear cada página de seu romance. Para os amantes de boa literatura é um banquete! Dar um destino a Ricardo Reis, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, não só é interessante como brilhante, na medida em que Criador e criatura se encontram nesta jornada de múltiplos que são diferentes mas iguais. No enredo, o retorno de Ricardo Reis a Portugal depois de viver por anos no Rio de Janeiro, seu envolvimento com Lídia, nome de uma de suas musas nos poemas - não a mesma - seu interesse por Marcenda e seu membro inanimado... os passeios de Reis por Lisboa, seus devaneios, suas conversas com Pessoa que é morto mas de alguma forma ainda vive, tudo é incrivelmente encantador. Não é um livro para ler com pressa. É um livro para ler, refletir, contemplar o belo. 

A divisão de classes na sociedade, a situação política de Portugal, Espanha e de toda a Europa, fios cuidadosamente trançados a trama. Saramago nos leva à discussões metafísicas e existencialistas sobre o ser e o não-ser, sobre o estar e o não-estar. Temas como solidão e morte ganham um sentido para além da tristeza e da decepção. É um mar de outros que habitam um único ser. Ambas, então, não existem! Enquanto houver quem se lembre... a importância da memória, individual e coletiva.

Em alguns momentos, visualizei tão claramente as cenas que cheguei a pensar em uma adaptação desta obra para o teatro, cinema ou mesmo para TV. Descobri que em julho do ano passado houve uma adaptação teatral pela Barraca. Percebi como sou ignorante em se tratando da história de Portugal. E não só isso, dos povos que originariamente colonizaram nosso Brasil; africanos, imigrantes e indígenas. Todos eles contribuíram para nossa cultura. 

Não vou aqui contar o que li. Meu objetivo é compartilhar minhas impressões, meu deleite. 

Muitos trechos chamaram minha atenção. Um deles foi uma fala da personagem Lídia:

"O senhor doutor é uma pessoa instruída, eu sou quase uma analfabeta, mas uma coisa eu aprendi, é que as verdades são muitas e estão umas contra as outras, enquanto não lutarem não se saberá onde está a mentira." 

As verdades como Pessoa ou Reis ou Caeiro ou Campos ou eu ou você são muitas. Somos todos analfabetos. Todos lutamos todos os dias como se luta nas guerras para não sermos uma mentira, para afirmar a verdade que dizemos, fazemos, somos.

Podia ter escolhido muitos outros trechos para citar. No entanto fico com este que traz complexidade na simplicidade, na medida certa.

Comece a ler um livro!

Até a próxima semana! 


Texto inicialmente publicado como nota em minha página do Facebook em 16 de outubro de 2017.

Fim de semana e a Lei de Murphy






Olá!

Já é tarde, eu sei. Mas tentarei ser breve. Sempre ouvi falar na Lei de Murphy sem notar realmente seus efeitos na minha vida ou na dos outros. Até o último sábado. 

“Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.”

Comemoramos em família o aniversário do meu irmão. Havíamos planejado tudo. Eu iria ao mercado na sexta-feira, compraria os ingredientes e faria os doces neste mesmo dia. O bolo seria feito no sábado, assim como os demais “comes” (pastel, cachorro-quente), exceto os salgados que seriam encomendados. 

Tudo estava indo bem. Preparei os doces e guardei-os na geladeira. No sábado pela manhã, preparei os pastéis sem notar algo. Ao tomar um copo com água minha tia notou que estava quente. Ela sinalizou e não demos importância (como geralmente acontece com tudo o que ela fala).

Na hora do almoço, meu pai foi se servir de suco quando observou que o mesmo também estava quente. Fui verificar se a geladeira estava desligada (isso já aconteceu muitas vezes) quando, para minha surpresa, percebi que ela não estava funcionando. Como fazer uma comemoração de aniversário sem geladeira?

Liguei para o técnico que chegou prontamente. Disse que o problema era na placa e que sairia para tentar adquiri-la. Não sabia se conseguiria porque as lojas fechavam as 3 da tarde, e já eram duas e meia. Ele saiu rapidamente de moto, esteve em três bairros diferentes: lojas fechadas. Apenas uma loja estava aberta, mas não tinha placa que precisávamos. O conserto ficaria para segunda-feira de manhã. 

Otimista que sou, não deixei a peteca cair. Tentei tranquilizar minha mãe dizendo que tudo ficaria bem e pedindo que me ajudasse com os demais preparativos. Manter-se ocupado é muito bom para se distrair dos problemas. 

Como três semanas antes eu havia machucado o dedo, passando por uma pequena cirurgia há dois dias, não podia bater a massa do bolo. Sem problemas. Eu poderia usar a batedeira. Não sei bem como aconteceu. Se foi o fermento o que houve com o gás. Sim... Enquanto o bolo estava no forno, o gás acabou e o botijão precisou ser trocado... Resultado: o bolo solou.

A maré de acontecimentos ruins não parou aí no sábado. Na segunda de manhã, enquanto o técnico consertava a geladeira, a pia começou a apresentar um vazamento que causou dores de cabeça à minha mãe e lambanças na cozinha e sala.

Para completar, ao chegar ao trabalho na manhã de segunda, soube pelo pessoal do trabalho que o final de semana deles também não havia sido muito fácil... É como dizem por aí: “Desgraça pouca é bobagem”!

Outras variações ou abreviações da Lei de Murphy são: “Se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará”; e Se algo pode dar errado, dará." É como naquele filme, Alexandre e o Dia Terrível, Horrível, Espantoso e Horroroso: o universo conspira contra Alexandre que, incompreendido pela família, deseja a seus familiares um dia similar para entenderem seu sofrimento. Não estou aqui a desejar que você tenha um dia como o de Alexandre e sua família. Digo para você observar. Esse dia, algum dia, acontecerá. Não é praga que estou rogando. Acontece com todos. Quando acontecer, lembre-se apenas de identificar e tentar passar por esse dia ileso. Não se preocupe. Esse dia acabará quando o outro começar. Mas fique ligado. A Lei de Murphy está à espreita e, a qualquer instante, você pode ser vítima dela novamente.


Texto inicialmente publicado como nota em minha página do Facebook em 10 de outubro de 2017.

Ouvir é preciso





Olá, você que tropeçou e caiu aqui neste texto!

Quero falar hoje de algo que durante muito tempo foi minha especialidade: ouvir. Digo que foi porque atualmente acho que falo mais do que ouço. Não é que não queira ouvir, é que meu trabalho obriga-me a falar. E tive que aprender. Aprendi a falar, a me expressar, a me comunicar. Aprendi muitas coisas, mas evidencio estas porque, durante muito tempo em minha vida foi uma dificuldade. Falar em público então... era um pesadelo! Não hoje, felizmente.

Mas chega de falar, falar e falar! Ouvir é muito importante. Ouvir não é somente escutar. Ouvir é dar atenção, é considerar o que o outro está dizendo. Podemos aprender muito apenas ouvindo. Ouvir é uma das ferramentas de aprendizagem dos cegos. Ouvindo é como analfabetos aprendem sobre diferentes assuntos. Podemos evitar problemas ao ouvir alguém. E também é verdade que podemos ir de encontro aos problemas por ouvir terceiros... Podemos nos tornar pessoas melhores ouvindo conselhos e sugestões, ao invés de encarar como um jeito de os outros se intrometerem em nossa vida. Podemos crescer no trabalho, na vida acadêmica, na vizinhança, na família apenas por ouvir alguém. 

Nesta semana, duas situações fizeram com que eu pensasse sobre isso. Alguém separou do seu tempo para falar comigo, passar seu conhecimento, orientar-me com sua experiência. Em dado momento, esse alguém se preocupou por talvez eu levar a mal aquela intromissão. De maneira alguma! Acho louvável além de bonito quando alguém reparte do que tem com os outros. Há pessoas que após alcançarem suas conquistas pensam assim: “Ah! Por que eu deveria ajudá-la a conseguir alguma coisa se eu tive que trilhar meu caminho sozinho?” Há pessoas que, embora fiquem satisfeitas (talvez...) com o sucesso alheio, preferem não fazer nada para colaborar. Para que facilitar a vida do coleguinha, né?! Não esse alguém. Ficamos conversando uns vinte minutos ou mais sobre como eu poderia alcançar meus objetivos usando as estratégias adequadas. Sou muito grata. São poucas as pessoas que dividem o seu tempo e conhecimento para ver o desenvolvimento de outro. 

Outra situação que me deixou pensativa foi uma ocorrência na escola em que trabalho. Prefiro aqui não dar detalhes, até porque não se trata só de mim, mas de outras pessoas também. O fato é que não saber ouvir pode nos causar problemas. Isso quando somos nós a ouvir. Quando somos os falantes que não são ouvidos, a situação é desesperadora. Você sabe o que vai acontecer. Não que tenha visto numa bola de cristal... A experiência diz, você fala, por dentro você está gritando, mas o outro não ouve. E depois, por não saber ouvir, o outro precisa saber como conviver com as consequências. E nós devemos aprender a não nos culpar. Até porque foi o outro que errou. O difícil é ver esse outro caminhar sorridente em direção ao precipício enquanto estamos gritando com todas as nossas forças para ele não ir.

Fico pensando quais motivos uma pessoa pode ter para não ouvir. Talvez tenha um conhecimento que excede o da maioria. Ou ainda não tem paciência para isso. Falta-lhe tempo. Quem sabe não tem humildade, simplicidade... Ouvir é algo que pode ser ensinado, aprendido e exercitado. Penso que se as pessoas se ouvissem mais evitariam muitos desentendimentos, desencontros, fracassos.  “Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.”
Marcos 4:23 

Até a próxima semana!


Texto inicialmente publicado como nota em minha página do Facebook em 3 de outubro de 2017.