Leitura de Um Perfeito Cavalheiro de Julia Quinn

 


Terminei a leitura do livro Um Perfeito Cavalheiro de Julia Quinn e... gostei com g minúsculo. Dos livros que li até agora, O Duque e Eu e O Visconde Que Me Amava, este terceiro certamente não é o melhor. E o problema, a meu ver, não reside especificamente no Bridgerton da vez, Benedict. São vários os problemas. 


O primeiro deles é que, nas obras anteriores e nas duas temporadas da série disponíveis na Netflix, Benedict é um personagem leve, alguém que possui suas questões internas, mas não se abate ou se deixa ofuscar. Ele tem desejos e aspirações genuínas e não parece se prender às convenções. Até porque, o fardo da posição social como visconde recai sobre seu irmão mais velho, Anthony, personagem central do segundo livro. O Benedict que imaginei se preocuparia um pouco com a questão da diferença de classes entre ele e Sophie, mas não permitiria que isso o impedisse de viver um grande amor. 

A propósito, Sophie vive sua jornada da obscuridade à evidência, da pobreza à riqueza, do ódio sofrido ao amor, nesta releitura do conto de Cinderela. Gostei da personagem porque ela sabe quem é e a qual mundo pertence. Apesar de apaixonada por Benedict, ela não tem grandes expectativas, principalmente depois de perceber que ele não se lembra de tê-la conhecido no baile organizado por sua mãe dois anos antes. 

Embora as passagens que descrevem os encontros amorosos dos dois sejam tão interessantes como nos livros anteriores, acho que o casal não tem muita química. Este é um casal que não funcionou muito bem, na minha humilde opinião. Talvez eu tenha essa impressão pelo fato da autora ter escolhido contar a história a partir do conto. Sei que se trata de uma releitura. 

Além disso, Benedict é um pretendente mais do que perfeito para qualquer jovem. No entanto, ele não é um príncipe encantado. Ele é um homem que cresceu rodeado de amor em uma família extensa que o ensinou a reconhecer os outros ao seu redor. O amor de sua família impediu que ele crescesse como um menino abastado mimado que olha para os outros como se estivessem debaixo das solas de suas botas. Não! Benedict é um ser humano. Essa preocupação do personagem, exagerada ao meu modo de ver, fez com que a narrativa não tivesse fôlego. 

O que quero dizer é que para mim não é muito crível a reação dos personagens. Acredito em Benedict quando ele intervém e ajuda Sophie resgatando-a de Phillip Cavender. Acredito em Sophie quando ela cuida de Benedict que adoece por causa da forte chuva. Mas não acredito quando ela se rende e permanece na casa dos Bridgerton. Não acredito em Benedict quando ele insiste em levá-la para casa de sua mãe depois de recusar ser sua amante. É uma situação bizarra. Ele a salvou de um estupro coletivo para sugerir uma relação extraconjugal e ela não só permaneceu trabalhando para a família dele como inclusive se entregou a ele?!? Acho que a autora errou a mão. 

Discutir sobre as questões internas desses dois personagens, suas motivações e suas escolhas foi totalmente anulado por colocar ambos em uma situação que contradiz os próprios personagens. Podem dizer, por exemplo 'Ah, mas o amor faz isso!'. Será?! Tenho minhas dúvidas. Enfim, talvez eu esteja enganada e tenha feito uma leitura errada dos personagens. Mas fiquei o tempo todo, enquanto lia, pensando que me perdi na floresta. Aquela mencionada no capítulo onze, quando Sophie espia Benedict nu banhando-se no lago. Fiquei ali, espiando os dois e depois me perdi. Não encontrei o caminho para o Meu Chalé e, tudo o que posso dizer é que, quando encontrei, Benedict já havia casado com Sophie, tinham juntos três filhos e aguardavam o quarto do casal, torcendo para ser uma menina dessa vez.


Lido em Janeiro/2024